Você Pode Ter Comido Isso: Supermercados Vendiam Carne Estragada e Pão mofado na Serra

Supermercados da Serra são flagrados vendendo carne estragada e alimentos com mofo: consumidores expostos a risco grave.
Na manhã da última segunda-feira (5), uma operação conjunta da Polícia Civil, Procon-ES e Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) escancarou uma realidade alarmante para os consumidores capixabas: dois grandes supermercados da Serra foram flagrados vendendo alimentos impróprios para o consumo. Entre os produtos apreendidos, estavam 287 quilos de carnes estragadas, 323 itens vencidos ou com mofo e 188 mercadorias com peso inferior ao indicado, caracterizando fraude.
Os estabelecimentos autuados foram o Assaí Atacadista, às margens da BR-101, e o Atacadão, localizado em Colina de Laranjeiras. As imagens registradas durante a fiscalização mostram pacotes de pães de forma visivelmente mofados e carnes com prazo de validade expirado — algumas desde o dia 2 de maio — ainda sendo comercializadas normalmente.
O delegado Eduardo Passamani, da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon), classificou o cenário como “gravíssimo”. Segundo ele, em um dos açougues, praticamente toda a carne exposta estava fora do prazo de validade. “Há indícios de que a carne foi mantida à venda mesmo com conhecimento da irregularidade. O que vendesse, venderia”, declarou.
Empresas na berlinda: danos à reputação e possível responsabilização criminal
O Assaí Atacadista se manifestou oficialmente, lamentando o episódio e afirmando que ele “não condiz com os padrões de qualidade, segurança e controle adotados pela empresa”. Uma força-tarefa técnica teria sido imediatamente deslocada à unidade para reforçar os procedimentos internos e reorientar a equipe. Já o Atacadão, até o momento da publicação desta matéria, não se pronunciou.
No entanto, o dano à imagem já está consolidado. O fato de duas redes nacionais — com ampla estrutura e responsabilidade sobre o abastecimento alimentar — terem sido flagradas cometendo falhas tão básicas e perigosas levanta uma questão: estamos diante de falhas pontuais ou de um modelo de gestão que prioriza o lucro sobre a saúde do consumidor?
Fraude e risco à saúde pública
Além da questão sanitária, o Ipem identificou sete produtos com peso abaixo do declarado. Entre eles, biscoitos, bebidas e farinhas de marcas conhecidas, o que sugere possível envolvimento também das indústrias fabricantes. “É uma prática que lesa o consumidor diretamente: ele paga por 100 gramas e leva 90”, explicou o fiscal Luiz Felipe Lambone. Todos os itens passarão por perícia técnica e, dependendo dos resultados, os responsáveis poderão enfrentar ações judiciais.
O diretor do Procon-ES, Fabrizio Pancotto, alertou para os riscos à saúde: “Estamos falando de intoxicação alimentar, infecções bacterianas e até internações. A carne estava vencida há dias e continuava sendo vendida como se estivesse apta ao consumo”.
Penalidades e a importância da denúncia
As punições previstas para esse tipo de infração vão muito além das multas administrativas — que podem chegar a R$ 14 milhões. Se confirmada a negligência ou dolo, os gestores podem ser responsabilizados criminalmente, com penas que variam entre dois e cinco anos de prisão.
Por ora, os supermercados permanecem abertos e terão prazo legal para apresentar defesa. As investigações continuarão para apurar se houve má-fé na exposição dos produtos ou falhas estruturais nos processos de controle de qualidade.
Um alerta à sociedade: o papel do consumidor
Mais do que uma ação isolada, a operação foi resultado de denúncias feitas por clientes. Segundo Passamani, “foi o volume de relatos que motivou a fiscalização”. Isso mostra o poder e a responsabilidade do consumidor em fiscalizar e cobrar respeito aos seus direitos.
Este episódio lança luz sobre a fragilidade das relações de consumo no país, sobretudo quando grandes empresas falham no básico: garantir que o alimento à venda não ofereça risco à saúde. É imperativo que a sociedade se mantenha vigilante e que os órgãos públicos ampliem sua capacidade de fiscalização, pois o que está em jogo é a segurança alimentar da população.